Por Luis Miguel Henriques, Macedo Vitorino – Soc. de Advogados
Uma das coisas que mais me incomoda no país é a dificuldade que, coletivamente, temos de implementar medidas que todos sabemos serem não só necessárias, como até indispensáveis.
A diagnosticar e planear pouco nos distingue dos melhores exemplos. Contudo, já quanto ao conseguir pôr tais planos e ideias enquanto nação em prática, é que “a porca torce o rabo”.
Alguns anos atrás, uma das queixas recorrentes era a ausência de contributos da sociedade civil para com o país, mas hoje em dia muitos têm oferecido o seu contributo valioso de forma bondosa com o generoso objetivo de contribuir para um Portugal maior e melhor.
Correndo o consciente risco de pecar por defeito e deixar algumas outras de fora, olhar para o trabalho que entidades como a CIP, SEDES ou a AEP nos entregam, é compreender e abraçar o acima exposto.
Se a CIP faz do “crescimento” o seu principal estandarte, pois assume de forma clara que “só com verdadeiro crescimento económico poderemos dar resposta às legítimas aspirações de bem-estar dos portugueses, construir um Estado Social digno desse nome e corrigir os desequilíbrios económicos acumulados durante décadas”, a AEP lançou o desafio “Portugal Export +60’30”, cujo principal mote é o de conseguirmos aumentar as exportações pelo menos em 60% do PIB até 2030.
Na leitura do documento, não pude deixar de o “cruzar” mentalmente com um outro publicitado no ano passado pela SEDES. Falo do “Ambição: duplicar o PIB em 20 anos”.
À data, Abel Mateus em jeito de provocação avançava-nos que, “para se poder levar a economia de uma trajectória de quase estagnação a um crescimento médio de 3,5% ao ano, é essencial um período de transição, em que teremos de fazer alguns sacrifícios e adoptar políticas de ruptura que só fruirão totalmente no médio e longo prazo.”
Ali estão elencadas medidas específicas de como se chegar a tal objetivo, tais como a “redução da dívida pública, a aposta no ensino profissionalizante, a prioridade ao aumento da eficiência da despesa do Estado, o progresso técnico com recurso à inteligência artificial e a melhoria das infra-estruturas de ligação à Europa, especialmente a ferrovia”.
Já o documento, apresentado esta semana, pela AEP elenca as vulnerabilidades que existem no sector empresarial português (falta de diversificação de mercados, baixo valor das exportações, entre outras) e também propõe recomendações.
O engraçado é perceber que estes dois estudos a que acima me refiro até podem ser integrados, na medida em que um primeiro bom contributo de conseguir duplicar o PIB em 20 anos é o de conseguir alcançar a meta de 60% do PIB em exportações dentro de 6.
Tenho para mim que um dos grandes pecados empresariais em Portugal continua a ser a falta de cooperação inter empresarial, e que sem essa ferramenta perdemos capacidade de escala para competir no mercado externo.
Posto isto, que tal uma cooperação “inter associações”? Acho que o país poderia gostar de ver CIP, AEP, SEDES a trabalharem conjuntamente, de forma coordenada, num só programa e propósito, culminado num grande evento. Não se diz que o “melhor exemplo vem de cima”?