Quem se lembra das crónicas do Professor José Hermano Saraiva? Claro que eram muito ricas em termos de substância, mas aquilo que guardamos no nosso “cofre emocional” é a sua expressividade, gestual e de tom de voz.
A regra criada pelo Professor Albert Mehrabian, dos 7-38-55, tem vindo a ser ensinada em contextos de formação como sendo regra determinante para a comunicação de sucesso. Aqueles números representam o peso relativo atribuído às três grandes áreas da comunicação: o conteúdo das palavras (7%), o tom de voz (38%) e linguagem corporal (55%).
Existem vários críticos a esta regra, sendo uma das mais usadas para a desvalorizar, a questão da aprendizagem das línguas estrangeiras, na medida em que sendo isso verdade, tal significaria que a aprendizagem poderia ser muito simplificada.
Se as palavras representam apenas 7% da comunicação, deveríamos então ser capazes de, ouvindo cuidadosamente o tom de voz e observando a linguagem corporal, ter 93% de precisão para entender o idioma. E sabemos bem que assim não é.
Como ficamos então?
O raciocínio do professor Mehrabian foi o da consistência, ou seja, palavras, voz e a linguagem corporal devem ser consistentes umas com as outras durante a comunicação. Se o receptor da informação detectar alguma inconsistência, será o não verbal, prioritariamente, a ser utilizado para se obter uma impressão geral sobre a mensagem.
As conclusões do estudo de Mehrabian relacionavam-se com aquilo que ele chamou “a mensagem silenciosa”, que aborda a comunicação das emoções, quando as palavras e as mensagens não-verbais estão em conflito. Ora, quando isso acontece, as pessoas tendem a acreditar nas mensagens não-verbais. É fácil de o entender, quando em situações do dia-a-dia, alguém nos diz que está tudo bem, mas a sua expressão dá-nos certeza absoluta que assim não é.
Vale portanto a pena sublinhar que o estudo focou-se especificamente na comunicação de emoções, sendo que a linguagem não-verbal considerada foi restrita às expressões faciais, através de fotos.
Portanto, mais do que usar a palavra “importância” (no senso comum ouve-se muito este termo associado a esta regra), devemos usar a palavra “impacto”. Por isso, muitas vezes, algo dito de determinada forma, tem um impacto nos outros, do que referido de forma diferente.
Nos seus estudos, Mehrabian concluiu que as expressões faciais têm um impacto mais relevante ao comunicarmos os nossos sentimentos; em segundo lugar a forma como se fala (tom de voz) e em terceiro a mensagem propriamente dita.
Por isso, treine as suas apresentações em público, grave-as e assista com a mente aberta para melhorar. Não tenha receios, todos precisamos de melhorar em algum aspecto.
A grande mais-valia deste estudo, foi ter chamado a atenção para a importância da comunicação não-verbal na nossa capacidade de comunicarmos eficazmente, criarmos relação e empatia com quem nos ouve, bem como aumentarmos a nossa capacidade de influência.
Alguém que decida manipular a sua linguagem corporal ou a forma como fala, tende a correr mais riscos de ser “apanhado” pelo radar emocional do seu interlocutor. Se o fizer, faça-o de forma profissional, pois os seus interlocutores perceberão facilmente a inconsistência, o que diminuirá a probabilidade das pessoas acreditarem em si. Como Mehrabian escreve, “as pessoas dependem mais de ações para inferir sobre as emoções de outra pessoa”.
Seja natural. Se costuma usar gestos quando conversa ao telefone, deve trazer esses gestos para as suas interações. Deixe-os acontecer de forma natural.
Usar os gestos naturalmente e estar consciente de suas verdadeiras emoções sobre determinado assunto são duas estratégias fundamentais para garantir a consistência entre o que é dito [como as palavras soam] e como se movimenta nesse contexto. Tenha isso em mente e a sua eficácia em comunicar será aperfeiçoada.