Trabalhar no que se gosta é bom, qualquer um concordará. O problema é que o facto de se gostar do que se leva a cabo, fazendo-nos sentir bem, pode não ser indicação de qualidade naquilo que fazemos. Gostamos, estamos satisfeitos, mas podemos estar a fazer mal as coisas. Podemos estar a fazê-las sempre da mesma maneira, não aprendendo, nem melhorando. Uma pessoa tende a acreditar que, porque gosta, está a fazer bem. Mas o facto é que a relação entre fazer o que gostamos e as coisas serem bem-feitas não é óbvia.

Serena Williams, uma das melhores jogadoras de ténis de sempre, disse um dia: “nunca gostei lá muito de ténis…” E ganhou Roland Garros, Wimbledon, o Open dos EUA, a Austrália e por aí fora… Isto coloca a questão de qual o papel do gosto na alta performance?

Por um lado, gostar do que se faz, evidentemente, facilita que se faça mais vezes, que uma pessoa se dedique mais, que mantenha a motivação e que, em geral, tenha mais energia e envolvimento no que faz. No entanto, as coisas podem funcionar de outra forma. Pode gostar-se de jogar ténis, de liderar equipas de trabalho, de vender, etc.., mas pode ser o caso, por mais que joguemos, não subirmos a qualidade no que fazemos. Muito boa gente passa uma vida a jogar ténis e nunca melhora por aí além a performance. Aliás, muitas vezes, o passar do tempo a fazer a mesma coisa faz baixar, e não subir, a qualidade. Ao gostar do que se fazemos, sentimo-nos bem, e podemos entrar em piloto automático, divertirmo-nos, e as coisas não evoluem.

Contudo, gostar do trabalho que temos é um bom ponto de partida para melhorar o desempenho. Mas, por si só, não melhora coisa alguma. Além da atitude e do método de trabalho, existe ainda um outro aspecto importante no gosto pelo trabalho e no alto desempenho: os resultados que se conseguem. O envolvimento, o esforço e a obtenção de resultados positivos e rápidos são das dinâmicas de motivação e sucesso mais relevantes na vida profissional. A dedicação, a aprendizagem de novas práticas, o esforço para melhorar, a repetição e os resultados positivos, são o caminho para a alta performance. Esse é o testemunho de Serena Williams, que dizendo que nunca gostou muito de ténis… referiu o que na sua perspectiva a tinha feita uma campeã: “se ao longo do ano bateres meio milhão de bolas e em todas elas quiseres melhorar, vais ser campeã”.

Por Fernando Ilharco, Consultor Sénior Excelformação.

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