O Ovo de Colombo da Mentalidade
Fernando Ilharco, Jornal de Negócios, sexta-feira, 23 de Abril de 2021
Saber que o cérebro é maleável a vida toda e que nem as competências nem a personalidade de uma pessoa são fixas, e ver os argumentos científicos disso mesmo, pode ser o método mais decisivo para desenvolver uma mentalidade que facilita o sucesso.
O ovo de Colombo da mentalidade parecem ser as neurociências. Esta área científica que tem registado progressos importantes, por vezes surpreendentes, nas últimas décadas mostrou que as pessoas são maleáveis, plásticas, que podem mudar a vida toda. Nem a personalidade é fixa, nem as competências, nem sequer a inteligência. Tudo muda ao longo da vida, tudo pode mudar de uma forma mais ou menos intensa e mais ou menos intencional. Depende do esforço, da vontade, da aprendizagem. Mas é mais.
O potencial de mudança de uma pessoa, por isso, de aprendizagem e melhoria, parece ser tão mais elevado quanto mais essa pessoa seja alvo não tanto de formação nesta ou naquela competência, mas de informação relevante sobre as descobertas em causa das neurociências. Meia-hora de conversa sobre a maleabilidade da personalidade, mostrando os estudos e os argumentos científicos que indicam que as pessoas podem mudar a maneira de ser, a personalidade, a inteligência, as competências, pode ser um dos métodos mais rápidos e eficazes para mudar para melhor a atitude e a mentalidade de uma pessoa.
Um estudo da revista ‘Journal of Child Psychology and Psychiatry’ acompanhou ao longo de nove meses cerca de cem jovens, entre os 12 e os 15 anos de idade, com diagnósticos de depressão e ansiedade. Numa das experiências, metade dos jovens participou numa sessão de meia-hora online sobre a maleabilidade do cérebro e outras descobertas das neurociências sobre a plasticidade humana. A outra metade dos jovens fez um curso semelhante, mas sobre sociabilidade, sobre como gerir as emoções e ultrapassar depressões e ansiedade, não lhes tendo sido apresentada informação das descobertas das neurociências sobre o assunto. Todos os jovens foram avaliados psicologicamente antes e depois dos cursos. Nove meses depois das experiências os resultados foram sugestivos: o curso assente nas neurociências foi cerca de três vezes mais eficaz a melhorar o estado psicológico dos jovens do que o outro curso.
O importante parece ser aquilo em que passamos a acreditar, o que passa a ser real. A informação das neurociências mostra inequivocamente que é possível mudar. Que pode ser difícil, mas melhorar as competências, mudar de maneira de ser, aumentar a performance profissional é uma questão de determinação, esforço e aprendizagem. Claro que nem toda a gente gosta desta novidade. A justificação habitual de que não se faz ou não se arisca porque não se tem jeito, que nunca se teve jeito, deixa de fazer sentido. Uma pessoa é mais responsabilizada por ela própria; e nem toda a gente gosta disso.