O pior líder

Na incerteza, a coragem é necessária, mas não chega.

Se em alturas como esta, de incerteza e mudança, um bom líder pode fazer a diferença, um mau líder também o pode. Hoje, o desafio não é apenas o da liderança de um país, de um município ou de uma grande empresa. Onde quer que exista dinâmica social, quer no dia-a-dia profissional no sector da saúde, nas forças de segurança, nos transportes, etc., marcados pela mudança e pela emergência, quer na vida familiar ou pessoal, ao ritmo da quarentena, nas idas à farmácia ou ao supermercado, a liderança, a capacidade de decidir com pertinência, de dar o exemplo e ser seguido, pode fazer a diferença no ultrapassar da crise.

Quando tudo corre como é suposto, basta repetir o que se faz habitualmente para não fazer asneiras. Nessas alturas não são necessários grandes líderes, e aqueles que surgem, tantas vezes, estão mais relacionados com acções de comunicação do que com decisões, riscos e comportamentos no terreno.

Quando muito do que se tinha como certo desaparece, quando as novidades, vastas, mal definidas e perigosas se acumulam, as lideranças assumem maior importância. Não se trata apenas de coragem. Ela é necessária, mas não chega.

Escrevia Sun Tzu na ‘Arte da Guerra’, obra com 2500 anos, que não é fácil saber quem numa batalha virá a ser o mais eficaz. As incógnitas e os intervenientes são muitos. Por isso, a informação atempada e a capacidade de adaptação são vitais. Quando as coisas são diferentes do habitual, quando as ameaças nos cercam e o tempo escasseia, a falta de noção, a ignorância e uma boa dose de arrojo, são a pior combinação. Juntas, geram um resultado fatal. Não é difícil de saber quem será o pior líder, defende Sun Tzu. É sempre alguém corajoso, arrojado e muito incompetente: “é quem mais depressa leva ao desastre.”

Tempos incertos são tempos de liderança. Tempo de liderança nas grandes, médias e pequenas organizações, nas microempresas e na vida de cada um. Decidir bem, decidir, com coragem. Decidir com base na informação disponível, no que diz a ciência sobre a situação, no melhor conhecimento disponível sobre a nossa actividade profissional. Decidir ponderadamente significa também mitigar os riscos.

Todas as decisões implicam algo desconhecido, escreveu Martin Heidegger, o pensador alemão falecido em 1976. Um desafio de hoje é que a ignorância e o arrojo inconsequente não ampliem esse mesmo desconhecido.

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