Portugal e o mundo atravessam momentos de grandes desafios. A rubrica “Portugal é capaz”, que publicamos no início de cada mês, tem a missão de nos dar força e acreditarmos na nossa capacidade de superação. A rubrica de Setembro é sobre a crise da vacas loucas e as bolachas mais vendidas do mundo.
A encefalopatia espongiforme bovina (EEB), vulgarmente conhecida como doença da vaca louca ou BSE (do acrônimo inglês bovine spongiform encephalopathy), é uma doença neuro-degenerativa que afeta o gado doméstico bovino.
Em Junho de 1990 foi diagnosticada a BSE em Portugal, embora o diagnóstico tenha permanecido confidencial até 1993. Em Junho desse ano, uma audição e um Inquérito Parlamentar, tiveram como resultado a “não conclusão da existência da doença das vacas loucas em Portugal” e só em Julho de 1994 foi reconhecida a sua existência.
Até 1994, todos os casos diagnosticados respeitavam a bovinos importados do Reino Unido. Na sequência do aumento do número de casos registados e das crescentes evidências de uma possível transmissão ao Homem, definiu-se, em 1996, um Plano Nacional de erradicação da BSE. Este programa previa o abate de todos os bovinos coabitantes de casos confirmados, com recolha sistemática de amostras e respectiva análise laboratorial. Também se proibiu a utilização de quaisquer produtos de origem bovina provenientes do Reino Unido e retiraram-se do mercado todos os medicamentos que incorporavam substâncias activas preparadas a partir de órgãos ou tecidos considerados de risco.
Decorrente de todo o alarmismo na sociedade, a Nabisco, detentora na altura das gelatinas Royal, viu o seu negócio cair a pique e um cenário muito negro para manter a sua estrutura de recursos humanos. O Director de Vendas de então, Paulo Leite, numa visita aos EUA para participar no FMI (Food Market Institute em Chicago) decidiu perante tamanha hecatombe trazer da casa mãe da Nabisco Internacional, todo um portfolio de marketing e trade marketing totalmente inovador para o nosso mercado, com particular foco em alavancar as vendas das desconhecidas bolachas Oreo.
Já com o produto em portfólio, a vida do Paulo não foi fácil, um estudo ao consumidor indicou que 92% das mães não consideravam comprar as bolachas Oreo. Esta evidência “cientifica” aumentou ainda mais as resistências da estrutura comercial de então, que nunca na sua vida, imaginaram colocar o seu foco na venda de bolachas.
Em pleno verão de 1997, o Paulo pensou em duas coisas:
1º As bolachas não são para as mães, mas sim para os filhos;
2º Vamos fazer o que nunca foi feito, implementar nas lojas uns displays gigantescos que simulavam um camião de bolachas no meio das lojas.
A “loucura” foi apresentada à Grula-Grupo Lisboeta de Abastecimento de Produtos Alimentares, depois ao então Carrefour de Telheiras e pelo burburinho causado no mercado, Sonae, Auchan e Jerónimo Martins aderiram a seguir.
Foram precisos 8 meses, para as bolachas Oreo, passarem de zero vendas a líderes de mercado em Portugal. Um dos feitos mais impressionantes no FMCG no nosso país.
O Paulo Leite foi nosso colega na Mars e mais tarde nosso cliente na Bimbo.
Esta sua história, prova que, mesmo em tempos muito difíceis, Portugal é capaz.