“A Liderança não nasceu para inspirar. Nasceu para coordenar.”


in Bioliderança

Porque seguimos quem seguimos? Durante demasiado tempo, fomos levados a crer que a liderança se explica por traços individuais como carisma, visão, ousadia. Mas a ciência evolutiva aponta noutra direção.

Muito antes de haver empresas, partidos ou exércitos, os nossos antepassados precisavam de se coordenar para sobreviver. Caçar em grupo exigia cooperação precisa. Defender-se de ataques, organizar rotas de migração, partilhar alimentos, tudo isto dependia de uma capacidade rara: alinhar os comportamentos de vários indivíduos em torno de um objetivo comum.

É aqui que emerge a liderança. Não como poder arbitrário. Mas como uma vantagem adaptativa.

Num mundo instável e perigoso, grupos que tinham mecanismos eficazes de coordenação e partilha de informação, muitas vezes centrados num líder, eram mais bem-sucedidos do que grupos desorganizados. A liderança foi, antes de tudo, uma função biológica. Daí o termo: Bioliderança.

Liderar não era dominar.
Era comunicar, prever, organizar, agir com prudência.

É por isso que seguimos quem demonstra competência, fiabilidade e visão estratégica, porque, nas savanas do passado, isso podia significar a diferença entre viver ou morrer. Hoje, a selva é outra, mas o cérebro é o mesmo. Continuamos a procurar líderes que maximizem a nossa sobrevivência e bem-estar colectivo.

Na prática organizacional, isto tem implicações sérias.
A liderança eficaz não é a dos que mais falam, mas a dos que melhor coordenam.
Não é a dos que “inspiram”, mas a dos que tornam possível a ação conjunta.

Compreender a liderança como um fenómeno biológico é o primeiro passo para a exercer com sentido.

Tudo o resto é ruído.

 

Este texto é da autoria de Paulo Finuras

Doutorado em Ciência Política (UL), EMBA em Gestão Global e Política Internacional (UI), sociólogo (ISCTE-IUL) e professor associado convidado no ISG – Business & Economics School de Lisboa onde é investigador no CIGEST. Especialista na evolução e comportamento humano, Sociobiologia e Psicologia Evolutiva. É autor dos livros: Primatas Culturais: Evolução e Natureza Humana (2015), Bioliderança: porque seguimos quem seguimos? (2024, 2ª ed.), Da Natureza das Causas – Psicologia Evolucionista e Biopolítica (2020), Human Affairs – Evolution & Behaviour (2021) e As Outras Razões – Como a Evolução Dá Sentido Àquilo Que Fazemos (2023), todos editados pela Sílabo.

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