A experiência é um bom professor? Sim. Mas é um professor limitado.

Gostamos de acreditar que a experiência nos ensina tudo. Que basta fazer algo muitas vezes para nos tornarmos melhores. Mas isso não passa de mais um mito reconfortante.

Sim, a experiência pode ser um bom professor. E é, até certo ponto.
Mas é, muitas vezes, um professor preguiçoso, redundante e por vezes até enganador.

Vejamos o exemplo:
Conduzir 25.000 km
Todos os dias. Mesmo trajeto. Mesmo carro. Mesmas rotinas.
Sabe o que aprende ao fim desse tempo? Praticamente nada.
A pessoa fica mais eficiente, talvez. Mais automática, certamente.
Mas não necessariamente melhor.
A verdade é que, depois de uns meses, deixa de estar a aprender. Está apenas a repetir (“mais do mesmo”). A experiência, por si só, não ensina. O que ensina é a experiência acompanhada de reflexão crítica, feedback, desafio e, sobretudo, nova informação.

Sem contacto com novas ideias, novas técnicas, novas realidades ou novos erros, a experiência estagna. E quando estagna, transforma-se em rotina, em erro e não em evolução.

É por isso que há líderes que cometem os mesmos erros há 20 anos, mas com mais confiança; profissionais que confundem antiguidade com sabedoria e equipas que deixam de evoluir porque “sempre se fez assim”. Quando alguém afirma que “tem vinte anos de experiência”, não sabe que, provavelmente, só tem dez. Os outros dez passou-os a repetir as mesmas coisas.

A experiência vale muito pouco sem análise e sem novidade.
E a prática não leva necessariamente à perfeição. Leva à habituação, o que é diferente.

Só a prática deliberada, alimentada por nova aprendizagem, leva ao aperfeiçoamento.

Quer melhorar com a sua experiência? Pergunte-se:

– O que fiz hoje de forma diferente?
– O que aprendi que ainda não sabia?
– Que feedback estou a ignorar?
– Quem, ou o que é que, me está a obrigar a sair do automático?

A experiência ensina… mas só aos que continuam a aprender.

Talvez seja boa ideia não sobrevalorizarmoa a experiência em detrimento da aprendizagem permanente. Digo eu. Posso estar enganado.

Este texto é da autoria de Paulo Finuras

Doutorado em Ciência Política (UL), EMBA em Gestão Global e Política Internacional (UI), sociólogo (ISCTE-IUL) e professor associado convidado no ISG – Business & Economics School de Lisboa onde é investigador no CIGEST. Especialista na evolução e comportamento humano, Sociobiologia e Psicologia Evolutiva. É autor dos livros: Primatas Culturais: Evolução e Natureza Humana (2015), Bioliderança: porque seguimos quem seguimos? (2024, 2ª ed.), Da Natureza das Causas – Psicologia Evolucionista e Biopolítica (2020), Human Affairs – Evolution & Behaviour (2021) e As Outras Razões – Como a Evolução Dá Sentido Àquilo Que Fazemos (2023), todos editados pela Sílabo.

Abrir chat
Olá,
no que podemos ajudar?