No mundo da gestão e da liderança, circulam ideias sedutoras, bem-intencionadas, algumas, populares e… profundamente enganadoras. A ciência evolucionista ajuda-nos a desmontá-las, porque nos lembra que o ser humano não foi moldado para a perfeição, mas para a sobrevivência.
Mito 1: As pessoas decidem racionalmente
Na verdade, decidimos com base em atalhos mentais moldados pela evolução. Viéses como o excesso de confiança, o pensamento de grupo ou o viés da confirmação são heranças cognitivas de ambientes ancestrais. A racionalidade é possível, mas é uma conquista, não um ponto de partida.
Mito 2: Com formação adequada, qualquer pessoa pode ser qualquer coisa
Não, não pode.
A plasticidade humana tem limites. Temos predisposições naturais que tornam certos caminhos mais prováveis do que outros. A crença na “tábua rasa” ignora a biologia, e isso custa caro em programas de desenvolvimento irrealistas.
Mito 3: As pessoas são naturalmente boas
Não somos nem bons nem maus. Somos seres adaptativos. Podemos cooperar, mas também competir, excluir ou dominar. A moralidade existe, mas evoluiu num contexto tribal, não global. Ignorar esta ambivalência é muito perigoso, especialmente quando se lidera.
Mito 4: A diversidade garante melhores decisões
Não, não garante. A diversidade de origens não é, por si só, diversidade cognitiva. Para que haja ganho real, é preciso que as diferenças venham acompanhadas de competências complementares e que haja uma identidade comum que sustente a confiança. A diversidade sem coesão deslaça.
Mito 5: O líder ideal é o mais sábio e virtuoso
Na prática, seguimos líderes que sinalizam segurança, poder ou prestígio e não necessariamente os mais competentes. Esta tendência é ancestral e automática. Entendê-la ajuda-nos a evitar ilusões e a escolher melhor.
A teoria da evolução não nos diz como o mundo deveria ser. Mas ajuda-nos a ver como ele é. Não nos diz a coisa certa a fazer. Apenas se é mais fácil ou difícil fazer. E isso é essencial para liderar com realismo, inteligência e humanidade.
Artigo de Paulo Finuras